domingo, 21 de setembro de 2008

Poesia demente




Minha poesia
é uma louca incendiária,

discípula de Nero
e Calígula, o insano,

mostra-se totalmente desnecessária
e embala a melodia do profano,

fode-se na folia
do seu imaginário,

em doçura, ardor e arrelia,
constante calvário,

corre quente o grafite
e o verbete na veia,

e num ricochete com o seu
serpenteia,

é transfusão, propagação
de um eu que me enleia.

Kuvundu



A lua anda irresoluta,
solta a língua negra
no céu de Angola,

canta semba
por agrado,
uma kizomba
como um brado,

esconde-se
escarlate,
escorrendo
nas páginas
da história,

Afrodizialá,
Afrodiziacá.

Kuvundu------ anoitecer na língua Bantu

Imagens:http://images.google.com.br/images?gbv=2&hl=pt-BR&q=Angola+mulher

Henda! Misericórdia!



A água corre rubra
Permeando as mil colinas
A rua anda aos gritos,
Amanhecido desejo de paz,
Munhungu! vertigem!


E ferve a dois graus
do sul do equador
as lembranças sórdidas
marcadas pelo horror,
Mukondo! tristeza!


O lago kivu transborda
Pesadelos e nevralgia
Dos dias vermelhos
Entre tutsis e hutus,
Masoxi! lágrimas!


Sobreviventes do caos
Balbuciam compaixão
Pelos ventres de kigali,
Fetos contorcem o genocídio,
E clamam absolvição.
Ufolo! liberdade!

Ducionário Bantu:
Munhungu= vertigem Mukondo vertigem Masoxi= lágrimas Ufolo=liberdade
Henda = Misericórdia

Imagem: http://vozporextenso.blogspot.com/2008_02_01_archive.html