quarta-feira, 29 de outubro de 2008
BANNER DA CAPA DO LIVRO LÍGUA- EXPRESSÕES POÉTICAS
BANNER POR MARINA FRANCIULLI
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domingo, 21 de setembro de 2008
Poesia demente
Minha poesia
é uma louca incendiária,
discípula de Nero
e Calígula, o insano,
mostra-se totalmente desnecessária
e embala a melodia do profano,
fode-se na folia
do seu imaginário,
em doçura, ardor e arrelia,
constante calvário,
corre quente o grafite
e o verbete na veia,
e num ricochete com o seu
serpenteia,
é transfusão, propagação
de um eu que me enleia.
Kuvundu
Henda! Misericórdia!
A água corre rubra
Permeando as mil colinas
A rua anda aos gritos,
Amanhecido desejo de paz,
Munhungu! vertigem!
E ferve a dois graus
do sul do equador
as lembranças sórdidas
marcadas pelo horror,
Mukondo! tristeza!
O lago kivu transborda
Pesadelos e nevralgia
Dos dias vermelhos
Entre tutsis e hutus,
Masoxi! lágrimas!
Sobreviventes do caos
Balbuciam compaixão
Pelos ventres de kigali,
Fetos contorcem o genocídio,
E clamam absolvição.
Ufolo! liberdade!
Ducionário Bantu:
Munhungu= vertigem Mukondo vertigem Masoxi= lágrimas Ufolo=liberdade
Henda = Misericórdia
Imagem: http://vozporextenso.blogspot.com/2008_02_01_archive.html
terça-feira, 26 de agosto de 2008
Macarrão com vatapá
Eu tenho o branco na pele
que herdei da palma da mão
dos meus antepassados,
cabelos louros Afro-Ítalo-Sul-Americanos
[encaracolados]
fragmentos do negro e do mouro,
o sangue que corre em minha veia,
escorre farto em cadeia
e nos barracos das favelas,
as lágrimas que rolam aqui,
vieram de outro quintal
no dia que a nau aportou
trazendo um certo Cabral.
Então, sou assim, preta, branca, mulata,
brasileira, faceira, incansável acrobata.
Maria Júlia Pontes
domingo, 24 de agosto de 2008
Da ausência de malícia
Mulher- Nu de Eugéne Durieu
Se de pranto ou mero encanto
Cosi palavras sobre tua pele
Em matizes crus e alterados
Uma flor - de- lis deixei tatuada,
Não te flageles por minha ousadia
Porquanto digo com exímia certeza:
Sei o teu valor, fé e sabedoria,
Nunca quis ruir tua fortaleza,
Se és pecador, estou condenada
À fogueira fria, ou então, uma espada
Que perfure os olhos que quiseram ver
O brilho dos teus num alvorecer.
Maria Júlia Pontes
Ângela
Nuvens de algodão-doce
flutuam calmamente
no céu de Ângela
atravessam luas e sóis
seu olhar dúbio,
prelúdio,
são faróis,
guiam embarcações
angelicais em fúria
navegantes das águas bravias,
ora quentes, ora frias,
oceanos de desejos,
esboço preciso
de sua intrínseca
geografia,
nas águas
do mar de Ângela
tudo é possível,
tudo é cabível,
pois sem mistério
o amor deságua
no mar de Ângela,
dia após dia.
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
Artimanhas
Não tente me devorar numa só talagada,
Eu não curo a fissura em dose única,
Que toquem todos os celulares
Quando pensares que ainda estou
Nos arredores das tuas inquietações,
Que um bando de pássaros alados
Sobrevoem tua cabeça quando encontrares
Os anjos gêmeos separados ao nascer,
E que a cotovia venha te dizer
O momento exato em que deixaste
Teus rastros em minhas entranhas,
-Artimanhas?
Canto de areia
Borboletas nos cabelos
Borboletas nos cabelos,
responderei: - não sei,
Elas nasceram em mim,
São tão naturais
Quanto meus pêlos,
Se por acaso quiseres saber
Das pontas dos novelos,
direi: -é um emaranhado
Na busca de sentidos
Que não temos como escolher,
Se não entenderes
Porque rio tanto
Não te intimides,
Na mesma medida
Corre meu pranto,
Se em tua palma
Borboletas pousarem
Te acalma, é aminha revoada
De prazeres coloridos,
É porque meu bando buliçoso
De borboletas em jornada chegou,
E se alojou atrevido em seu corpo
Que como uma alvorada me ludibriou.
Avexado
O azul e o branco
Verteram sobre o vermelho
Da minha tristeza em mosaico,
Escreveram palavras em hebraico
Que minha compreensão não alcançou,
E arrastei dores em gotas,
Que corroeram minhas verdades tolas,
E avexou meus sentimentos caros
Destruindo meus momentos raros
Invadindo minha alma quente,
O coração preso em correntes
Sanguíneas, esperou a redenção
Que chegaria, ou não.
Fadas verdes
Águas Flaviais
Um traço em linhas
Escolhidas a risca,
Um frasco de emoções
Incógnitas ariscas,
Expõe, e recolhe-se
Não precisa prévio aviso
Basta absorver o olhar
Fullgas, assim, de improviso,
E tem na voz a melodia
Dos tambores de Angola,
A ferocidade das águas do Kwanza,
As dores, seu peito imola,
Traz ventura que alumia
As noites sem lua de outrora
A dor e a destemperança,
Nas juras secretas dos rios
Desejos a cantarolar,
Segredos de um alvorecer
Guardados em mananciais,
Pois bendito seja o ser
Que um dia navegar
Em suas águas Flaviais.
Poema dedicado ao meu grande amigo e irmão nas letras Flávio Vicente.
Tétis
As tempestades que me cabem
São estados climáticos
Desprotegidos de paixão
De curta duração,
Eu vento na sua cara séria,
Trovejo na sua boca quente,
E chovo no seu último balbuciar,
Alago ruas e avenidas
Só pra te contemplar; correnteza
A me procurar na Av. Andaló,
E rio... preto céu carregado
De vontades de agora,
De sempre, e de passado,
Sou o titã que correu em
Volta da sua terra,
Demarquei suas fronteiras,
Sem intenção do plantio marcado,
Floresci sua última videira.
Maria Júlia Pontes
sábado, 16 de fevereiro de 2008
Madrugais
A revirada dos desejos ávidos
Se nem mesmo me tocas,
E te sinto cálido?
Corro ladeira abaixo
Pés no chão de pedregulhos
Não almejo simples fugas,
Por que não vens se eu fagulho?
Será que subjugas?
Sei das feridas que te assolam,
Das noites perdidas no azul,
Do verde que viram teus olhos,
E que os teus sentidos imolam,
O tempo correu pra te fazer saber
Que o passado mora ao lado,
E renasce num alvorecer,
Deixa ressoar teu brado:
- Olvidais e madrugais!
Corsário
Quando o dia se perde entre violetas
Descoradas,
Em minha janela penduradas,
Nuvens pesam na cabeça, nos ombros
Nos pés,
Meu olhar mareia
E minha maré, é cheia,
Não querira imaginar como é,
O negro, o azul, o laranja e o grená,
E agonizar,
Não queira saber,
Desconhecer na maioria das vezes,
É oportuno, quando os ventos
Sopram ao contrário,
Afinal, sou apenas, mais um corsário,
Preso.
Volver
Reviram os armários feito doida,
E meu desejo desaforado
Emerge do nada, meio engasgado,
Balbucio palavras sem nexo,
Rolo na cama a procura
De um faz de conta e sexo,
Queimo as cortinas de renda
Que tu me deste naquela
Tarde vermelha e celeste,
Espero que tu me entendas
Porque forcei tua porta
Abrindo fendas,
foi pra te fazer saber
o que deveras arde
ao cair de cada tarde,
Então sou febre ao anoitecer.
Saudade carmim
Ribeirinho
A respiração trafega ofegante,
Fujo da seca igual retirante,
E o desejo em mim batuca,
Falta-me o ar antes do chegar
Eu rondo suas esquinas afoita,
Não temo os redemoinhos,
Quero o seu corpo que me açoita,
Faça-me presa, predadora e descaminho.
Dê-me sua boca, pois faltava-me o ar antes
Que me inundasse o ribeirinho.