segunda-feira, 30 de julho de 2007

Língua


Língua solta,

sem rodeios

indaga sem medo

a que veio?


Língua presa

cala seco

a dor das ruas

as mortes nos becos


Língua quente,

um ópio, um vício

transforma o prazer

em seu único ofício


Língua fria

profere nos palcos

o que não acredita,

Maldita!


Língua santa,

espalha o bálsamo

um doce alento

diluindo o tormento


Língua sua,

me lambe, entorpece

e num gozo frenético

meu corpo padece


Minha língua na sua, solta, meu corpo no seu, preso que nunca esfria, .eu sei não sou santa, então eu me rendo a sua língua vadia.


Maria Júlia Pontes

Há risco


O risco rasura as linhas traçadas à risca

enquanto a mente revolve o risco,


os dedos desatinados percorrem o papel,

palavras escorrem, ora doces, ora fel


a certeza balança lenta envolta ao mistériodo descomedido vitupério... tormenta,

a noite é uma roleta muda, a bola não para onde enumerei

arrisco mais uma rasura bem na frase que mensura os sentimentos que a (risquei).




Maria Júlia Pontes

sábado, 14 de julho de 2007

Farta


Maléficas horas danadas, corta-lhe o peito o cutelo,
Um querer pérfido e farto, num canto qualquer de um quarto
No seu louco inferno esquecido, um coração arrefecido,


Me admira a tal donzela, tão formosa, tão singela,
Por fartas horas a eito, tentando contar em versos
Os sentimentos controversos, emaranhados no seu peito,


Já caíra em desmazelo, esperando uma emulsão
Que alguém inventaria, pra poder remediar, o que não se remedia.




Maria Júlia Pontes

Letras Daninhas






O olhar , através da lente
devora minh'alma aturdida, sem calma
mirado certeiro no meu corpo fremente,


a escrita grita, o que sua fala cala
em palavras derramadas noite adentro,
leio os versos num intento... me desconcentro,


as pálpebras pesam nas linhas
de um poema feito ladainha
gritando em coro "sua alma é minha,"

e esvaem-se as palavras
e brotam pensamentos
e germinam grãos


de uma plantação que engatinha
por entre letras daninhas
e eu me flagro em devaneio
que eu não sei de onde veio,

eu ensaio um solo:
"Não, Nâo, eu sou só minha"
e no sono que eu durmo, adivinha?
amanheço num colo que me aninha,


Desperto e rio da minha própria ladainha, que não seca,
Do meu sonho que peca e não posso tocar.






Maria Júlia Pontes



(inspirado no poema "Ladainha Seca" de Anderson H. http://andersonpoemas.blogspot.com/)