sábado, 30 de junho de 2007

Sem despedida


Passara horas debruçada sobre a mesa, as lágrimas escorriam igual chuva torrencial,os olhos queimavam,o coração sangrava carmim, um coração escravo tal o cravo vermelho-sangue coagulado, que constrastava com o branco da paz que um dia sentira, com o corpo dele ao seu lado. Restara apenas o dela, ali, esvaído de forças ao ler as primeiras linhas pungentes.Ele fragmentou sua vida em cacos tão miúdos, impossível tentar juntá-los. Nem sua letra deixou, partiu deixando apenas palavras gélidas, como se tivesse sido tomado de uma amnésia insana, esquecera tudo o que vivera antes? antes do fim.Deveria ter levado a máquina de escrever, ela não mais servia, suas palavras se extinguiram, ele as arrancara para sempre, deixara os cravos e uma carta, que nem se deu ao trabalho de tirar da máquina de datilografar. Algumas horas depois ele retorna, um olhar gélido, entra sem fazer ruído algum, parecia ter esquecido algo, entra no escritório, no chão o corpo de mulher estendido, sobre o rosto, a máquina de escrever, coberta de um vermelho que se misturava aos cravos que lhe enchiam a boca, a única parte do rosto que conseguira ver.



MJulia Pontes

Um comentário:

Klotz disse...

Encontrei esta prosa deslocada entre a sua poesia de sensualidade provocante.
Dei-lhe uma mordida para saber o gosto.
O gosto é de quero mais.