
sexta-feira, 30 de novembro de 2007
Partes de mim

Deslumbrado

Aquela estrela vermelha
caindo no meio do oceano
foi um tremendo engano,
era meu olhar alucinado
com você ao meu lado
à lamber minha orelha,
havia uma fogueira incandescente
nos olhando demente no exato momento
que eu te lambuzava de ungüento,
e nesse mesmo instante a estrela vermelha
explodiu-se no mar chuviscando ardência
nos quatro cantos do mundo da minha ilusão
de prazer sem razão, e aflita querência.
maria Júlia Pontes
Aflição
Revelar
Anomalias

A beleza da face
que me deram,
um regalo,
tento escondê-la
entre meus versos
sem fisionomia,
e apunhalo
cada traço,
assim refaço
minha perfeita
anomalia,
então entorno
caldo quente
nas entranhas
que adorno,
e sou febre,
calor aferventado
nas noites
que você - afogueado
desliza entre minhas pernas, e hiberna.
maria Júlia Pontes
Cáceres meu cais

Quando a tarde cai
embriago-me das odes sagradas
entoadas pelos cantos do meu cais,
quando a tarde vai
o vermelho laranja
afogueado reflete
meu corpo que navega
pelas águas do Paraguai
Cáceres movimenta-se oblíqua
em minha direção,
toco as vitórias-régias
num tom verde enluarado,
e a noite dança inquieta
sobre as ondas do meu rio
que se agita a cada entoar
das vozes unidas para sempre
nos ecos da minha memória,
riscando o Paraguai está
grande parte da minha história.
maria Júlia Pontes (Imagem Cáceres-MT)
terça-feira, 27 de novembro de 2007
Quereres

Os meus quereres
ondulam alto
num planalto
de Zimbábue,
atravessam o Kariba
em pecados originais
que me inundam
com suas águas artificiais,
então versejo pecados abusivos,
que escorrem do seu corpo persuasivo
no meu, fricativo de branca louca
dourada pelo sol de Zimbábue
os meus quereres
são girafas rupestres,
são delírios correndo
atrás de foguetes
por todo globo terrestre.
Maria Júlia Pontes Imagem (Kariba- Zimbábue)
Às favas

Me esquivo diante de seres assim
passivos e ao mesmo tempo corrosivos,
corroem pelas beiradas feito soda cáustica
com uma rapidez imprescindível,
a minha face amarela não derrete
feito vela, porque me basto, me afasto,
a redoma que inventei não foi por acaso,
nada é por acaso, nem o sol nasce a troco
de alguns centavos,
as abelhas não constroem à toa os favos.
Maria Júlia Pontes (AC)
Anoitecer no Tietê

Esse bem querer
Que carrego
Me pesa nos ombros
Em noites assim,
Chuvosas em que me vejo
Rasgando a Marginal
Pra não doer sozinha,
Cada acelerada é como
Uma viagem pra nenhum lugar
Os caminhões parecem maiores,
O Tietê não me incomoda,
Ele me ajuda engolindo parte
Da sensação dolente,
Algumas vezes penso em navegar
De carro, isso mesmo, boiar no Tietê
Em plena luz da lua que nem sequer apareceu
E lá deixar uma parte desse doer...
E anoitecer de vez.
maria Júlia Pontes (AC)