terça-feira, 27 de novembro de 2007

Samba sem cordão

Vou assistir você deitar e rolar
escolher o lado que pretende sambar,
tirar os sapatos dessa alma dura
e apertar os passos sem qualquer frescura,

o tempo se perdeu só por prazer
de nos ver enlaçados pelas escolhas
o lado esquerdo é enredado e faz doer
encarcera, adultera, e cria bolhas,

e na avenida das desolações,
vou entoando meus desejos e bordões,

em coro lento, tamborim desatinado,
enlouqueço o surdo e então me mudo
pro lado que o samba ecoar cadenciado
e a cuíca chorar pedindo agrado,

lá vou eu uma vez mais, sem o meu chão
no tal samba amarrado e sem cordão,
sem estandarte, sem baliza e nem bastão,
apenas mais um samba, que não é canção

conheço bem seu gingado e sua fissura,
vem cá me agarra e me encha de loucura.




Maria Júlia Pontes

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